Com a recente decisão do governo norte-americano de ampliar as tarifas sobre produtos importados, o comércio exterior brasileiro, especialmente o goiano, entrou em estado de alerta. Goiás, oitavo maior estado exportador do país, sente os efeitos dessa nova configuração global e começa a repensar rotas e estratégias para proteger sua economia e manter seu ritmo de crescimento.
A medida foi anunciada no início de abril pelos Estados Unidos, sob justificativa de resgatar a competitividade da indústria nacional frente à concorrência asiática. A iniciativa impôs uma tarifa de 10% sobre produtos brasileiros, exceto aço e alumínio, que sofreram um acréscimo de 25%. Essas mudanças afetam diretamente o desempenho das exportações goianas, especialmente em um cenário onde os EUA ocupam a sétima posição entre os principais compradores dos produtos do estado.
Em resposta à nova política americana, o Brasil reagiu com a chamada “Lei da Reciprocidade Comercial”, sancionada recentemente, que permite ao governo brasileiro adotar contramedidas. Paralelamente, órgãos como o Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços estão em diálogo com instâncias internacionais, buscando mitigar os impactos e reverter as decisões tarifárias.
Mesmo diante da instabilidade global, Goiás apresenta números robustos. Em 2024, o estado foi responsável por grande parte das exportações agrícolas brasileiras, com destaque para a soja, carne bovina, milho e minério de cobre. O município de Rio Verde lidera esse movimento, seguido por Jataí, Mozarlândia e Montividiu — todos fortemente ligados ao setor agropecuário.
Apesar da força no campo, o estado também é um dos que mais consomem produtos estrangeiros, especialmente medicamentos, fertilizantes e insumos industriais. A China figura como principal parceira comercial, tanto nas importações quanto nas exportações, enquanto os Estados Unidos mantêm posição relevante como segundo maior vendedor e importante comprador.
A localização estratégica de Goiás no centro do Brasil é vista como uma vantagem logística que pode ser explorada para ampliar as relações internacionais. Segundo Michel Magul, secretário de Relações Internacionais da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), o estado tem potencial para se consolidar como um centro logístico nacional, sobretudo pela força do agronegócio.
Nesse contexto, a Alego tem desempenhado um papel importante na internacionalização do estado. A criação da Secretaria de Relações Internacionais marca um novo momento para o Parlamento goiano, que tem buscado intensificar o diálogo com embaixadas, instituições estrangeiras e potenciais investidores.
Um exemplo disso foi a participação de seis deputados em uma missão oficial à Índia, em fevereiro de 2025, ao lado do governador Ronaldo Caiado. Durante a visita, foi firmada parceria com a empresa Raj Process, que investirá nas áreas de energia limpa e biofertilizantes em Rio Verde. Parlamentares destacaram a relevância do intercâmbio para abrir portas e atrair investimentos, especialmente em setores estratégicos como energia renovável e tecnologia agrícola.
Ainda que o ambiente internacional esteja repleto de incertezas, analistas apontam que esse também pode ser um momento de oportunidade. A especialista Anna Bastos lembra que, em episódios anteriores de tensão comercial entre China e EUA, o Brasil — e especialmente Goiás — ganhou espaço no mercado asiático, aproveitando-se da demanda reprimida por produtos como a soja.
Por outro lado, ela alerta para os riscos da concentração excessiva de mercados. “Goiás precisa buscar novas frentes, agregar valor aos produtos que exporta e investir em infraestrutura e capacitação para ganhar competitividade internacional de forma sustentável”, afirma.
Enquanto o mundo observa os desdobramentos das tarifas americanas, Goiás se posiciona para não apenas resistir às mudanças, mas também crescer com elas. O fortalecimento das parcerias internacionais, a diversificação da pauta exportadora e o investimento em inovação podem ser os caminhos para garantir que o estado continue sendo protagonista no cenário global.